sábado, 31 de outubro de 2020

A Compra do carro

 Hoje eu quero compartilhar a história da compra do nosso primeiro carro. 

Nós conseguimos comprar o nosso primeiro carro em 2012, já estávamos hà 5 anos aqui em Moçambique. Como vocês já sabem a distância de Beira à Dondo são aproximadamente 42 Km, e naquela altura, a estrada era horrívvel, miuitos buracos e trechos de terra batida. Então o acesso era muito difícil. Para fazermos comprar precisávamos vir a cidade, só havia um supermercado, e as vezes outros missionários nos ofereciam carona, mas na maioria das vezes tínhamos que vir de chapa (transporte público), e fazíamos nossas compras nos armazéns e deixava com o guarda na porta, aqui os comércios fecham às 12h e reabrem às 14h. Então para não perdermos tempo, comprávamos rapidamente aquilo que necessitávamos, carregávamos muitas bolsas pesadas. Aff!!! No início tínhamos que fazer essas caminhadas pela cidade a pé, de dois anos começou a ter táxis e hoje temos chopelas pela cidade inteira. Quando tínhamos dinheiro íamos até em casa de táxi, mas quando não tínhamos, íamos até a paragem e pegávamos o transporte. E isso era outra confusão, pois quando nos viam com todas aquelas bolsas, queriam nos cobrar excesso de bagagem. Então era muito difícil. Sempre que eu voltava da cidade tinha dores de cabeças horríveis pelo estresse e aborrecimento. Mas como não sabíamos conduzir, não almejavamos um carro. Até que um dia nós fomos visitar uma família de amigos, que morava numa distância de quase 4h da nossa casa. Saímos bem cedo para pegar os primeiros chapas, passamos um dia agradável com nossos amigos, e no retorno, já estáva escurecendo, achamos melhor ir embora logo. Corremos pois já havia um chapa para sair, mas os lugares na frente, ao lado do motorista já estáva ocupado, e nós estávamos com uma amiga, missionária também, ela era muito alta e os chapas muito baixos. Então gentilmente pedimos para o senhor que estáva na frente ceder o lugar para nossa amiga, e ele que estáva na frente sentar conosco atrás (já estávamos acostumados a pedir para a pessoa ceder o lugar, e o povo aqui sempre foi simpático e cediam ao ver que nossa amiga era muito alta e não cabia no chapa, e a gente só pedia quando não haviam mais chapas no terminal). Não havia outro chapa e o senhor foi extremamente bruto, falou horrores para nós, nos xingou... e nós ficamos chocados olhando para ele e nos retiramos do chapa, pois queríamos ir todos juntos. Aí na mesma hora veio um chapa com o cobrador gritando: "Brasileiros, brasileiros, entrem aqui!". E nós corremos para o outro chapa. Quando estávamos quase chegando ao nosso destino havia uma fila enorme de carros parados, o cobrador saiu do carro para ver o que tinha acontecido já que engarrafamento naquela estrada era impossível. E derrepente ele volta gritando que aquele chapa havia se acidentado. E depois que os carros começaram a mover e nós os aproximamos, vimos que o carro estáva totalmente destruído. Só tês pessoas haviam sobrevivido. O senhor que falou horrores para nós estava morto, e teve as duas pernas partidas, o motorista também havia morrido.

Nós ficamos chocados... e o cobrador em choque ficou gritando: "Brasileiros morreram, brasileiros morreram!"  Aquilo virou um boato, e acharam que brasileiros haviam morrido naquele acidente.

Por fim chegamos em casa muito gratos pelo livramento que Deus nos deu. Na manhã seguinte um obreiro da base apareceu na nossa casa, de manhã bem cedo, e disse que havia tido uma visão conosco, mas não quis compratilhar para não ficarmos assustados. Ele disse que tinha cabado a intercessão, todos os obreiros estávam na porta da base, esperando chegar uns caixões. Dois grandes e um pequeno, ele disse que um era de bebê, e naquela época, Cadu era um bebê. E em frente a base era um oceano, e ele disse que estávam esperando os caixões chegarem para enviar para o outro lado. Na visão dele, duas pessoas adultas morriam e um bebê.

Nós choramos muito, ficamos muito chocados e aí começamos a pensar que precisávamos de um carro. Compartilhamos com a nossa igreja. A igreja e alguns amigos nos ajudaram a comprar o carro, conseguimos comprar e foi uma bênção em nossa vida. A juliana sempre estudou na cidade quando moravamos no Dondo. Eu ficava muito preocupada, ela ia e voltava de chapa.

Com o passar do tempo, precisamos de um carro maior, pois aquele era de passeio, muito baixo para as estradas de Moçambique. Quatro anos depois um português nos ofereceu o carro dele, um mini Pagero. Ficamos loucos para comprar aquele carro, estava muito barato. Alto, com tração, tudo que precisávamos. Mas não foi bênção como o primeiro. Esse carro quase nos matou. Todo ruim, e gastamos muito dinheiro paea consertar ele.

Até que o Pr. Ângelo veio nos visitar em Àfrica, viu as lutas e dificuldades que tínhamos com o carro e falou que no outro ano ele voltaria e compraria um carro novo para nós. Como sempre, o espírito de Tomé falou mais alto. Naquela altura os carros eram caro, o dólar muito alto. Ele nos perguntou qual carro que estaria em nosso coração, tínhamos um carro, mas falamos outro. Porque esse que queriamos aos nossos olhos parecia impossível. E ele disse assim: "Não, Deus não está me falando que é esse carro que estão a pedir. Qual é o carro que seria bom mesmo para vocês?"

Sem fé nenhuma falamos uma Toyota Hilux de quatro portas, com bagageiro amplo e tração nas rodas, que anda em qualquer terreno. E ele disse, é esse.

Eu, Patrícia, fiz como Sara, dei uma risadinha, nunca cri. Mas Deus deu. 

Quando fomos para a capital, encontrar com o Pr. Ângelo, para ele comprar o carro, fomos de ônibus, eu e o Marquinho, as crianças não foram pois tinha escola. Fomos de ônibus comum pois já não haviam mais passagens para a capital, saímos às 4h da manhã, subimos no ônibus muito felizes por que Deus estáva realizando um sonho. No meio do caminho, a mais de 1000 KM de casa, o nosso ônibus capotou. Eu estáva dormindo, acordei com o ônibus capotando, e a única coisa que vinha em minha mente era "Senhor, não me deixa morrer". Eu achei que estáva em silêncio, mas Marquinho disse que eu gritei muito. E talvez seja verdade, pois minha boca estáva cheia de vidro.  Quando saíos do ônibus, praticamente ilesa, primeiro fiquei em choque, eu mesma dizia: "Eu não acredito, eu não acredito". E depois eu comecei a glorificar a Deus!!

Enfim chegamos em Maputo, compramos o carro e retornamos para Beira.

Louvamos a Deus pelas suas bênçãos, pelas realizações de sonhos. Nós não temos sustento suficiente para manutenção desse carro, não que somos desorganizados, mas é que nunca sobra dinheiro para guardar. Mas graças a Deus, ele tem levantado sempre pessoas para nos ajudar. Esse ano quando voltamos do Brasil, precisávamos fazer manutenção, o carro estava parado, cheio de problemas. Deus levantou duas amigas nossas, inclusive, uma é missionária, e vive também de ofertas, e foi possível consertar. E é assim que temos vivido. De fé em fé. De glória em glória.  

O carro não é luxo, tenho menisco partido, para chegar na Vinde, da estrada principal até lá uma longa caminhada. Mais fácil para deslocar.... Só temos agradecer ... Deus é fiel!








quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A história das casas que moramos em Moçambique... casas engraçadas... não tinha teto...

 Olá queridos companheiros de jornadas!


Quero abrir meu coração e relatar uma situação que acho que nunca compartilhei ao público. Talvez os meus amigos masculinos não vão se importar, mas as minhas amigas sim, principalmente as "donas de casa". kkkk. Vão me entender perfeitamente!

Todos sabem que já estamos aqui em Moçambique há 13 anos (Vamos completar dia 04/11).  Nos primeiros anos, chegamos em Moçambique no período de chuva, ali já era o começo de um teste. kkk. 

Na nossa primeira casa o quintal encheu de água, o Marquinho teve que fazer uma ponte com madeira que nos levava da casa até o portão, tinha muitos sapos, cobras e caramujos gigantescos kkk. Nessa casa sofremos muitos roubos pois morávamos dentro da comunidade, tínhamos aprendido o contexto de viver junto com o povo, foi uma experiência terrível - não sei quantos lembram? Estávamos em choque, então procuramos outra casa, fomos morar numa vila, a casa até era boa, a maioria dos moradores eram estrangeiros. Nessa casa tivemos dois problemas, era muita cara, e como não tínhamos carro, era difícil acessar a estrada principal, o que  acabava sendo exaustivo para nós, ficamos três meses nessa casa, e logo fomos procurar outra. 

Parecia uma boa casa também, estava no bairro central, em cima de uma farmácia, mas aí sofremos uma inundação, o chão da casa era de taco, e pela água, todos os tacos se soltaram, além de termos sofrido muitos roubos. Desistimos dessa casa e nos mudamos para um apartamento em frente. O banheiro era todo entupido, não tinha box, era uma banheira, a gente tomava banho e depois tinha que tirar com um balde a água de dentro da banheira e despejar no vaso sanitário. Era horrível quando tínhamos que lavar o cabelo, pois gastávamos mais água, e as vezesaquela agua do banho chegava no joelho (só de lembrar me dá arrepios). Aí, em frente ao nosso apartamento, no mesmo andar, ficou desocupado. Nesse apartamento parecia ser tudo perfeito - menos a cozinha que tinha um tanque nojento, até hoje não sei porque colocaram um tanque de lavar roupa dentro da cozinha. Além também dos móveis velhos do dono da casa. 

Nessa época nós éramos da Jocum, então logo nos mudamos para a base. Gente, a casa era REDONDA! Eu me sentia como uma ratinho de laboratório. Tivemos que pegar água no poço, dentro da casa cheio de baldes com água. Era horrível! A base enchia de água, e todo momento vinham pessoas nos chamar, batiam nossa porta e pediam ajuda, aconselhamento, não tínhamos privacidade. E foi também a época em que mais tivemos malária, TODO mês pegávamos malária. Até que foi uma experiência legal, só que não kkkk.

Aí saímos da base, nos desligamos da Jocum e fomos morar na Beira, 42 KM de distância do Dondo. Parecia que eu tinha achado finalmente a casa dos  meus sonhos, só que o chão era de taco, e quando fomos viver nela tivemos dois problemas. Primeiro, barulho, tínhamos um vizinho que colocava a música tão alto que as janelas chegavam a estremecer, TODAS as tardes. E segundo, falta de luz. Aquele bairro faltava muita energia. Tudo isso além do aluguel caro, e nossas dificuldades em pagar, nos mudamos para outra casa, uma menor. Tivemos que vender muitos móveis. E então os problemas começaram novamente, a rua enchia, e tinha muitos ratos. Na casa haviam um forro, e levamos muito tempo para descobrir que os ratos viviam no forro da casa. Saímos dessa casa, e fomos para outra num bairro melhorzinho. A casa até que era boa, só o chão de tacos que era chato, mas nada muito preocupante. Vivemos nessa casa por três anos, ela ficava no terceiro andar. Nessa época eu parti meu menisco, e tive uma infecção no joelho era um grande sofrimento subir as escadas. Mas o real motivo de termos saído de lá foi a dona da casa ter decidido subir o aluguel, e não era um valor justo. Nessa época estáva muito difícil achar uma casa, nos mudamos para um prédio, no primeiro andar, o prédio era tão velho que em cada ventania a sacada do prédio caía um pouco. Parecia que estávamos vivendo numa casa de papel. Ficamos só três meses e nos mudamos para a casa onde atualmente estamos vivendo. Essa casa fica próxima a beira da estrada, o que causava muita poeira. Além de que o bairro que nós moramos não era suposto ter casas, já que é um bairro industrial, tem muitas fábricas, o que torna o ar pesado e com muita poeira. A Juliana e o Cadu tem alergia respiratória, então ambos tem muitas crises aqui. Agora a casa está cheia de problemas e o dono da casa não quer consertar, os reparos mais baratos fizemos, mas outros são caros e eles não querem consertar, para não termos desavenças, preferiamos entregar a casa.

Eu me recordo de uma frase que o Pr.Carlos, da minha igreja disse: "Eu tenho que escolher uma casa em que eu tenha paz, que eu saia , fique tranquila que ninguém vai me roubar, e que eu volte e durma em paz".

Então em 13 anos vivendo em Moçambique, ainda não encontrei a casa perfeita, e eu sei que não vou encontrar pois não temos condições financeiras para pagar a casa perfeira. Hoje estamos procurando uma casa para nos mudarmos, e vocês acreditam que muitas casas ainda estão destruídas pelo ciclone IDAI? Não foram reabilitadas!

Nós tinhamos uma casa em vista, só faltava darmos o calção. Mas o dono da casa não quis esperar, e perdemos a casa. Agora achamos outra, só estamos esperando a reabilitação da casa e juntarmos o valor para pagar o calção. O dono da casa disse que vai esperar, mas as pessoas aqui não tem muita palavra. Dia 01 de Dezembro nós temos que estar nos mudando e desocupar essa casa.

Então eu peço que nos ajude em oração, Para que pela infinita misericórdia de Deus, agora que estamos completando 13 anos em Moçambique, possamos encontrar uma casa que tudo funcione, de azuleijo, arejada, espaçosa, numa rua tranquila. E acima de tudo, que o valor do aluguel esteja dentro do nosso orçamento. Isso parece impossível, mas estou crendo na palavra de Deus, onde diz que TUDO é possível para aquele que crê!



Projeto Njira

Projeto Njira
Objetivo: Acompanhar as meninas na idade de 11 a 18 anos, através de grupo de discipulado, ensinar a fazer artesanato com materiais locais, afim de dar oportunidade de ter uma renda para continuar a estudar. E conscientizar as meninas e seus familiares que o casamento prematuro não é a melhor opção para independência financeira dos pais. Estaremos combatendo o casmento prematuro, proliferação do HIV e motivando-as a uma carreira acadêmica. Njira é uma palavra em dialeto massena que significa caminhos.

Associação Comunitária Vinde

É uma associação sem fins lucrativos que visa o bem estar das crianças, atuamos na comunidade do Mandruzi - Dondo, onde estamos construindo nossa sede.

43% das crianças de 0-5 anos sofrem de desnutrição crónica.

53% da população bebe água de fontes melhoradas .

39% da população ainda pratica a fecalismo a céu aberto.

Moçambique tem a 8ª prevalência de HIV mais elevada do mundo.

Dois estudos mais recentes, que tiveram lugar em zonas seleccionadas do Centro e do Norte do país, confi rmam que o grau de aprendizagem é muito fraco.

Metade das crianças menores de 5 anos ainda não estão registadas, o que representa uma violação nítida de um dos mais básicos direitos humanos.

Moçambique tem uma das taxas de casamento prematuro (de menores de 18 anos) mais altas do mundo, violando um dos direitos de protecção mais fundamentais (e violando também a lei moçambicana).

http://sitan.unicef.org.mz/files/UNICEF_FULL_Situacao-das-Criancas-em-Mocambique_Portugues.pdf

E por isso e por outros motivos que estamos atuando em Moçambique, os dados nas zonas rurais são piores.
A nossa organização ainda contribuem com o governo no avanço de medidas preventivas para combater o HIV, malária e outras doenças prevenivéis.

Juntos somos mais forte!

Quer saber mais sobre a nossa organização?
Contato: matriju@hotmail.com

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